terça-feira, 6 de maio de 2014


Estás prestes a explodir? Ou precisas de alimentar ainda mais a tua mente de vulgaridades? Sento-me num banco de jardim, não o faço há muito tempo. O cheiro das árvores deixa-me meio tonto, mas o meu olfato bate palmas de contentamento. Não penso em nada, mas sinto-me preenchido por migalhadas de tudo. Por mim passam estranhos com olhos fixos no chão. São constantes os arrepios que me percorrem, arrepios que surgem de corpos sem força para dar mais um passo. Quero gritar-lhes “sorriam”! Não o faço, não me ouviriam, são apenas mentes gordas que se alimentam de tristezas e mágoas, que sobrevivem na auto-estima consumida por desgostos, desgostos que não permitem vislumbrar o caminho certo para fugir da melancolia onde estão presos.
 
Ao meu lado senta-se uma velhota. Na casa dos 70 anos, suspira e olha-me nos olhos com um apelo de solidão! Sorriu e mostro-me disponível para conversar. Não há pensamentos, não há confusão, o sentimento é límpido como a água de um rio que corre calmamente, percorrendo os recantos mais sombrios daquela alma. Fala-me do tempo, fala-me da Lisboa de antigamente. Diz-me que pareço o neto dela, o neto que não vê há 10 anos. Mostra-me uma fotografia, chora, sem vergonha. Não se esconde por trás de sorrisos que não têm razão de existir. É transparente, diz-me que sofre, que se sente só, que perdeu a vontade de viver no dia em que a filha a deixou para trás. No seu amor incondicional não a culpa, defende-a até: ”seguiu o caminho com a sua família”! Baixa a cabeça e as lágrimas caem no chão como sonhos que já não se podem concretizar! É uma alma vazia de tanto amor!

Agarra-me na mão e agradece-me. Faz uma festa no meu rosto, diz-me que vou ser muito feliz, que está escrito nos meus olhos. Não abri a boca uma única vez, mas partiu como se tivesse falado comigo uma vida inteira. Recosto-me tão feliz. Do outro lado da rua um casal discute. As palavras proferidas num tom elevado ecoam para as quem quiser ouvir. Acusações e ofensas, choro e vaidade. Dois egos que lutam, mentes que se alimentam, com o passar dos segundos, de mais e mais acusações, mentes que estão prestes a cometer uma loucura. Ele levanta a mão e bate-lhe. Ali, à frente de quem passa. Caiu, desamparada. Vociferou, levantou-se, olhou-o com tanto ódio que quase o fez explodir. Virou costas. Ninguém se mexeu, ninguém procurou ajudar. Ninguém resistiu à tentação do “não quero ver”! Eu vi, mas não tenho força para mentes gordas de violência!

Acendo um cigarro. A sensação de desconforto apoderou-se do meu corpo inerte. Precisava de um laivo de genialidade para me sentir em paz de novo. Nos meus olhos permanece a agressão, nos meus ouvidos a mágoa daquela mulher desprovida de qualquer sentimento bom. Sem esperar sinto-me abraçado. O cheiro é familiar, a voz ternurenta, o toque suavemente intenso! Deslizas no meu rosto e sentas-te ao meu lado. Não há palavras para descrever a tua beleza, não há quadro que consiga perpetuar a tua simplicidade original, não há mente que não deseje engordar com o teu amor. Para mim tu és perfeita e o meu desconforto enche-se de rejúbilo ao sentir-te, na certeza que a solidão não existe contigo por perto, que a dor e a mágoa são sentimentos que não nascem a cada sorriso teu. Em ti tudo é coração cheio, na caracterização mais perfeita de uma mente feliz.

TG

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